sábado, 21 de junho de 2008

A Revelação

A REVELAÇÃO DE DEUS

O nosso conhecimento de Deus, ainda de fato, infinitamente insuficiente e falho quando dependente de nossa própria capacidade de revelá-lo, descobri-lo e anunciá-lo, só poderá ainda ser levado em conta quando ligamos e submetemos tal conhecimento à revelação que Ele faz de si mesmo. Quanto a essa auto-revelação que Deus faz, podemos obter pelo menos duas classificações: a revelação geral, Deus se comunica de forma irrestrita a todos, independente do tempo e do lugar; e a revelação específica,que abarca Deus se revelando de forma particular a alguns e, em épocas específicas e manifestando-se, então, Deus comunica-se e faz conhecida a Sua vontade, que temos acesso na observância das Escrituras Sagradas. Já quando citamos a revelação geral de Deus como modo de O conhecermos, nos referimos a Sua auto-manifestação por meio da Natureza, da história e da personalidade do próprio homem.

A REVELAÇÃO GERAL

Deus deixou traços, ou melhor marcas indeléveis e precisas sobre si na natureza e criação, que expressam de forma inequívoca a perfeição do criador. Na história, Deus se move e atua a favor de determinados objetivos no mundo, com o mundo e a favor do mundo, se servindo da Sua própria criação. E por fim, o homem como forma de revelar a Deus.Somos o cerne da criação, a mais valiosa obra prima, não apenas pelas qualidades físicas e mentais, mas também por nossas qualidades espirituais e morais onde se percebe melhor a próprio caráter de Deus.
Então temos na revelação Geral uma leitura final e decisiva sobre o nosso conhecimento de Deus? Uns se apóiam na teologia Natural para afirmar que sim. Alicerçando-se unicamente na razão, sem a necessidade de alguma fé anterior as crenças do cristianismo, tampouco de autoridade, instituição ou documento, Igreja e Bíblia respectivamente. Segundo Tomás de Aquino, teólogo e monge italiano da era medieval, podia se provar a existência de Deus unicamente através da razão, entretanto haviam questões que necessitam ser aceitas mediantes a submissão à autoridade.
Na própria Bíblia se entende que sobre a revelação geral Deus deixou de forma clara o que pode ser conhecido sobre Ele. Sua auto-manifestação é contínua desde a criação sendo percebida em tudo o que Ele fez. A revelação que Deus faz de si está acessível a todas as pessoas que queiram compreende-la, porém existe a barreira do pecado velando esta observação de Deus através da natureza, por isso Calvino usa a expressão ”óculos da fé” como sendo necessários aos pecadores que por problemas em sua “visão” não conseguem ver Deus em Sua criação, mas quando colocam os “óculos”, a vista melhora.
Embora tenhamos claramente através da Palavra de Deus indicações sobre a Sua Revelação deixada na natureza, ela, a Palavra, não dá a entender de forma alguma e de uma maneira inequívoca que podemos sustentar quaisquer argumentos de que há na revelação geral provas incontestes de Sua existência. A revelação geral existe e é objetiva, porém não pode ser usada para construir uma teologia natural que queira excluir outras formas de conhecimento sobre Deus.

A REVELAÇÃO ESPECIAL

A Bíblia, Escrituras Sagradas, Palavra de Deus.É ali que Deus se revela de maneira especial e inequivocamente. Dirigindo-se ao homem, fazendo conhecidos os Seus desígnios quanto a salvação e redenção do homem ainda na qualidade de pecador, sendo compreendida somente pela fé. O telos que fundamenta o “porque” de tudo isto, e do próprio homem apesar de toda a perturbação provocada pelo pecado.
Em certos tempos, e para certas pessoas, Deus se manifestou de forma clara, e particular, comunicou-se e impôs a Sua vontade redentora e salvífica. Por esta revelação especial captada, registrada por pessoa s que não puderam se eximir a Sua mensagem podemos conhecer novamente a Deus e Suas obras, obras que ficaram impedidas de comunicar a salvação por causa do pecado no mundo.
Javé firmou alianças pessoais, apresentando-se pelo nome.A essa revelação de natureza pessoal registrada na Bíblia se acentua o fato de a Palavra de Deus ser uma série de pronunciamentos específicos ou particulares sobre ocorrências e fatos concretos. No uso de linguagem humana, natureza antrópica da revelação, se faz perceptível na encarnação do próprio Deus,que assume a forma humana comum. Jesus é essa revelação suprema. Há ainda a natureza analógica da revelação, algumas comparações utilizadas para fazer uma verdade conhecida, tem que ser levado sempre em conta a grande diferença do que se compara, pois trata-se de Deus, infinito e inalcansável.
Deus utiliza-se da história, seus atos revelam a Sua intenção e caráter tornam-se indeléveis. Israel deduziu o Seu caráter salvífico através das inúmeras ações de libertação do povo. Deus também se revela falando, Seu discurso divino, Sua voz, o falar silencioso sobre a consciência de alguns, sonhos visões e interpretação de fatos. A encarnação,, Cristo é a palavra Viva de Deus, que reverbera de forma suprema e definitiva universalmente.
A respeito das formas de revelação de Deus, pode se dizer que essas linhas de pensamentos que apontam para uma revelação tanto pessoal como proposicional, podemos dizer que Deus se revela, dizendo-nos algo a respeito de si.
Abrindo um parênteses na linha de raciocínio até aqui estudada e fundamentada na Teologia sistemática de Erickson, e partindo para uma leitura barthiana a Palavra ganha uma outra conceituação, mais intrínseca à história, ao homem e à própria revelação que Deus faz de si. Para Karl Barth a Palavra de Deus é a palavra que Deus falou, fala e falará em meio aos seres humanos, a todos os seres humanos,quer seja ouvido, quer não seja. É a palavra de seu agir nos seres humanos, a favor dos seres humanos, com os seres humanos, Sua palavra é inequívoca, não é dúbia, não é obscura, é clara, portanto, em si é compreensível tanto para o mais sábio quanto para o mais estulto.Deus age e, agindo, fala. A palavra revela o ser humano como criatura, como Seu devedor insolvente, como ser perdido sob o seu juízo. Mas também revela o homem como criatura mantida e salva por Sua graça. E é sobre essa dupla revelação que se baseia o conceito barthiano de revelação especial e palavra de dEus: Deus como Deus do ser humano e o ser humano como ser humano e Deus.
Por isso temos que inequivocamente apontar para a palavra que Deus falou na história de Jesus Cristo como a palavra de consumação da aliança entre o parceiro divino santo, justo, fiel e perfeito e o parceiro humano que não é santo, justo, fiel e tampouco perfeito. Essa palavra fala da presença constante do parceiro divino fiel e do falhar do parceiro humano, o Israel ( o que luta não a favor, mas contra Deus) esse é nome desse povo. Assim ela revela a plenitude dessa aliança - não a humana, mas a divina, a de Javé. Por isso é uma aliança que aponta para uma consumação, porém não se torna plena em si.
Até que intervém a história de Jesus Cristo, atingindo o alvo da consumação dessa aliança. Em Cristo a antiga e única aliança, feita com Abraão, proclamada por Moisés, confirmada a Davi, se torna plena na medida em que o próprio santo e fiel parceiro da antiga aliança apresenta um parceiro humano, igualmente santo e fiel em meio ao seu povo, aceitando de forma irrestrita este parceiro, solidarizando-se com ele em uma relação de Pai e Filho e acima de tudo evidenciando-se a si mesmo como Deus, como idêntico a ele, esse mesmo ser humano. A consumação se efetua pelo fato de que o próprio Deus habita, fala e age naquele ser humano, do contrário tal vácuo na história não poderia ser atingido.
Definir essa revelação, esta Palavra que a partir do nada a tudo chama a existência , que da morte chama a vida. Se olhamos para o fato de que, revelação entende-se apenas o fato em si, a ação de revelar, então a Bíblia não é revelação. Mas se é também o resultado do revelado, o produto, a Bíblia também pode ser definida como revelação.

A PRESERVAÇÃO DA REVELAÇÃO: A INSPIRAÇÃO

É o Espírito Santo que exerceu sobre os autores a influência para que os textos pudessem ser reconhecidos como Palavra de Deus. As testemunhas primárias da Palavra de Deus, tanto nas pessoas do antigo como do novo testamento sofreram a influência direta do Espírito santo para a transmissão e manutenção desta palavra para outras pessoas. Não há que haver uma associação irrestrita de revelação com inspiração pois segundo a própria Bíblia, pode-se ter revelação sem inspiração e inspiração sem revelação, é um fato que há verdades reveladas por Deus, que não foram registradas, e não estão relatadas nos textos sagrados.
Que maneiras e Métodos Deus utilizou para essa inspiração? Algumas teorias podem responder a indagação: Por intuição, às testemunhas se encontrava um alto grau de percepção, um dom, uma capacidade única e especial, um bem permanente.
A teoria da Iluminação aponta para a ação direta do Espírito, mas agindo de forma a coadunar com a capacidade prévia de percepção das testemunhas.
A teoria dinâmica ressalta a co - participação divina e humana no processo de escriturístico da Bíblia, assim a “profecia está sujeita ao profeta”.
A teoria verbal tenta demonstrar que não somente houve um direcionamento de pensamentos, mas também preciso quanto as palavras usadas na transmissão da verdade. Não confundindo-se com um ditado, uma autômata reprodução textual.
A teoria do ditado sim implica em entender os escritos como reproduções exatas daquilo que o próprio espírito ditou, irrestritamente toda a Bíblia será ditada pelo espírito.

A AMPLITUDE E A INTENSIDADE DA INSPIRAÇÃO

Como olhamos a Bíblia? Como uma seleção de textos totalmente inspirados? Com uma seleção de textos com lições claras de ética e moral e espiritualidade, porém influenciada somente da ótica e práticas humanas, sem inspiração divina portanto? Ela foi abrangente e geral? Ou abarca alguns conceitos apenas? Com que intensidade percebemos a influência do Espírito no processo escriturístico?
Podemos confiar sim que a inspiração é divina, apesar da distância temporal, temos um guia seguro para o hoje pois é a genuína a palavra de Deus para nós. São os detalhes imperceptíveis sem a fé que denotam a intensidade com que a palavra é a genuína proclamação de Deus.

A CREDIBILIDADE DA PALAVRA: A INERRÂNCIA

Com relação a inerrância Bíblica, pode-se até não haver uma preocupação por parte de alguns em apresentar a Bíblia como infalível e absolutamente exata em todos os aspectos. Porém há ainda os que encaram de forma fundamental discutir, e provar que todos os seus ensinos são infalíveis e seu conteúdo é plenamente confiável. Alguns conceitos sobre a questão são apresentados, a saber:
Inerrância absoluta- A Bíblia é verdadeira de forma integral, seus conteúdos históricos, culturais, científicos, geográficos são infalíveis.
Inerrância plena- A Bíblia não tem obrigação de apresentar descrições históricas, científicas, geográficas, mas as que possui, constituem totalmente à verdade.
Inerrância Limitada- Com relação à assuntos que concernem à doutrina de salvação ela é sim inerrante e infalível porém quando se trata de ciência e história, Deus não se preocupou em revelar.
A compreensão de inerrância se torna mais importa sob o ponto de vista de três fundamentais questões: A importância teológica, histórica e epistemológica.
Importância teológica: Personagens de vital importância para a fé creditam à palavra autoridade, e do próprio ser de Deus e Seus atributos retira-se fundamentos para a defesa da inerrância.
Importância histórica: A Igreja ter imposto a palavra como inerrante e totalmente revelada por Deus, e exemplificando ainda mais, todas vezes em que se tratou da palavra afastando-a do conceito de inerrancia se verteram à heresias pavorosas.
Importância Epistemológica: Se experimentamos as declarações contidas na Bíblia é porque tem que ser verdade.
Podemos sim esbarrar em algumas dificuldades em explicar determinadas declarações, histórias ou dados porém não podem isso de modo algum resultar em prejulgamentos de erros.

O PODER DA PALAVRA DE DEUS: A AUTORIDADE

O que é autoridade? Somente o direito de comandar a fé? Ou mesmo a ação?. Sim Deus é a única autoridade que deve ter relevância quando se trata daquilo que diz respeito a si mesmo. Ele será sempre a autoridade final e inquestionável em questões religiosas. Porém esbarramos talvez na nossa falta de fé de que toda sua autoria é divina e para que isso ocorra é inteiramente preciso a ação interna do Espírito Santo que ilumina o nosso entendimento, é ele quem cria a certeza de que a Bíblia é a verdade e parte de Deus. Essa ação se faz mais necessária quando nos deparamos com a realidade de nossa diferença qualitativa, entre o nosso ser e o Ser de Deus, pela necessidade que temos de certezas e confirmações a respeito das coisas divinas e de nossas limitações latentes de nosso estado pecaminoso.
A autoridade bíblica nos direciona para um cristocentrismo sem escapatória, pois é o papel do Espírito Santo ensinar e lembrar de tudo o que Jesus ensinara; testemunhar sobre Jesus; nos convencer do Pecado, da Justiça e do juízo e nos conduzir a toda verdade.
A verdade é que temos uma dupla ação, inseparável, entre a autoridade e a razão. Isso é em si conflitante ou não? A razão de forma alguma pode ser entendida com ferramenta primária, ela não descobre a verdade. A verdade parte de Deus, assim como todo o conhecimento a respeito dEle, porém, em etapa posterior, quando nos deparamos com os desafios de determinar os significados das escrituras, e mesmo avaliar se corresponde à verdade, temos de nos utilizar da razão e os melhores métodos, sejam científicos, exatos, lingüísticos.. Portanto, fé e razão tem de andar juntos.
Mas e hoje? Certamente encaramos a Bíblia como a vontade de Deus para o homem, mas ficamos presos a uma temporalidade conflitante. Existe relevância daquela mensagem para os dias de hoje? Essa autoridade é dupla : a histórica e a normativa. No que diz respeito ao que Deus ensinou a povo e ao que Ele exigiu das pessoas na época, ela é autoridade histórica. Em se tratando de autoridade normativa, ou seja ligada às leis e sua essência é preciso ter cuidado ao determinar a essência permanente e sua forma temporária de expressão. Nem tudo o que tem autoridade histórica vai necessariamente ter autoridade normativa, para nós hoje.

UMA REALIDADE CONFLITANTE

O que Deus quis revelar Ele revelou, expressando a Sua vontade de forma inequívoca e eterna para o homem, manifestando a graça, nos reconciliando e absolvendo-nos de toda a culpa. Mas continuamos a querer ouvir outras vozes que não a dEle, talvez seja o receio de ouvir a verdade, o confronto sobre nossa realidade. Buscamos respostas, palavras, profecias, que irão soar como mais um final de filme de Spilberg, onde tudo sempre acabará bem, o galã sempre se dá bem, triunfa sobre o mal e explode a sua fortaleza. Sim o bem vence o mal, ou melhor, o bem já venceu o mal, eis a grande diferença que muda tudo. Então queremos ouvir mais o que? Um Deus esquisofrênico, que muda de opinião e julgamento e trabalha com o improviso? Eu não quero ouvir a isto.
A igreja brasileira, com algumas raras exceções, se enclausurou em um vício espiritualizante que alienou o povo e serve de uma espécie de ópio, anestésico e letárgico, narcótico mesmo. Somos um país mítico, que de católico apostólico romano não tem nada, somos sim Espíritas e cremos seriamente em possessões de entidades por exemplo. E isso adentra às nossa igrejas ao basearmos a nossa relação com o espírito de uma forma estritamente relacional e mítica. Os púlpitos estão cheios de profetas que insistem em se levantar e anunciar em nome de Deus aquilo que Ele próprio diz pessoalmente, por meio de Sua revelação. Não que eu ache que Deus não utiliza Seus ministros na propagação de sua palavra, mas tomar em autoridade e falar em nome de Deus com tons de revelação especial, seja em visões, sonhos ou de qualquer artifício sugestionável? Mentiria se dissesse que creio.
Pessoas direcionam suas vidas e ações e vidas seguindo estas vozes, vozes estas que ao meu ver são um sopro do próprio espírito humano querendo mais e mais não depender da verdade vinda de Deus, indo além, do governo e senhorio irrestrito de Cristo sobre a vida.Não é interessante e não temos tempo sobrando em nossas agendas para nos atermos às palavras de Deus que nos convocam ao arrependimento, à reflexão, a auto-análise, ao perdão. Temos pressa, nós nos auto-otimizamos, as relações de poder criadas pelo capitalismo nos obriga a sermos melhores, a nos auto afirmarmos, então porque eu tenho que ouvir que eu não mereço nada do que eu tenho ou do que eu sou, já que eu dei tão duro? A graça é preciosa demais, e temos outras prioridades, outros investimentos. Mas quando aquele Pastor ungido abre a boca e aponta pra mim e diz: Eis que te digo... Aí tudo faz sentido, Deus sabe dos meus problemas, Eles está me vendo, e eu recebo!
Onde a revelação é real e verdadeira, atemporal e clara está escrito: que chegaria um dia em que não suportariam a Sã Doutrina. E não estamos suportando, por isso interferimos e tratamos logo de colocar um novo interlocutor nessa história, pena que nem todos podem entender, pois,essa língua é meio estranha.
Soli Deo Glória!