quinta-feira, 10 de julho de 2008
quarta-feira, 2 de julho de 2008
O desespero dos peixes. Parte I
Se eu me percebo em desespero devo saber que passo por um momento de aniquilação do ser, não de um outro externo que tenta me aniquilar, mas propriamente comigo mesmo, onde as relações são estabelecidas quase que de forma hermética. É o meu eu que quer ser destruído, que quer destruir, que quer ser outro, ou quer ser ele mesmo. Eis a sua irresistível vontade de auto-destruição.Mas ela é impotente em seu intento e não consegue os seus fins, e essa própria impotência em destruir-se é uma segunda forma de sua destruição, a do eu é claro, na qual o desespero pela segunda vez erra o seu alvo: destruir o eu. Não quero mais ser peixe, definitivamente não, o desespero nessa dialética indissolúvel me desperta para a realidade do ser, estar e permanecer, ou, não ser, não estar e não permanecer.
É somente desesperando na busca em destruir, renovar ou modificar o meu eu que consigo perceber que sou uma constante síntese de infinito e finito, de temporal e de eterno, e de liberdade e necessidade. E por isso a consciência de se estar desesperado ou não é tão importante. Morrer não é nada, pois, o desespero apesar de potencial assassino, falhou em sua pretensa de aniquilar o eu, deixando aberta a porta para a busca de uma consciência inequívoca de que somos totalmente incapazes de estabelecer um equilíbrio do conjunto de relações que definem o que é o eu.
No desespero, a contradição, discordância mesmo, não é de modo algum uma simples discordância, mas sim a de uma relação que, embora orientada sobre si própria, é estabelecida por outrem. De tal modo que a discordância, existindo em si, se reflete além disso até o infinito na sua relação com o seu autor.
Por isso a verdadeira morte é ser como um peixe, sem consciência do desespero. Portanto é justamente o antagônico a esta falta de desespero onde encontramos a fórmula que descreve o estado do eu, quando deste se extirpa completamente o desespero: orientando-se para si próprio, querendo ser ele próprio, o eu mergulha, através da sua própria transparência, até ao poder que o criou.
sábado, 21 de junho de 2008
Em Nome da Cruz
Talvez nem todos consigam enxergar por de trás das cortinas. As corporações que controlam nossas vidas, o poder das sombras do capital especulativo que também manipula a informação e legitima a todos que afirmam, como eu afirmo: não há democracia. Mas todos podem ver, sentir e presenciar o resultado final desta “ópera babilônica”: o sofrimento dos pobres e excluídos, enxertados na ordem piramidal inferior, e que se vêem esmagados pelo peso máximo, insuportável, da loucura dos deuses deste tempo. Temos a nossa experiência na América latina como melhor exemplo de suplantação da ordem e lógica de poder e vestígio da manipulação megalomaníaca, transformando uma realidade que tinha tudo para ser de paz e harmonia em um mundo de trevas, sofrimento e morte.
Aqueles que estão sensíveis ao chamado dos que sofrem, estão dispostos a se tornarem alavancas no intento de levantar esta pirâmide, tombá-la e, reestruturá-la em sua ordem original e correta? Mesmo que essa pirâmide tombe, e também nos esmague, é ali o nosso lugar. Não podemos dar as costas a estes que são mantidos sob um severo constrito, é ali o nosso lugar. É ouvindo o choro e chorando com os que choram, é ali o nosso lugar. Dando as mãos, abrindo-lhes os olhos e os ensinando a andar de cabeça erguida, desenvolvendo uma consciência dos fatores determinantes da própria realidade de sofrimento. Definitivamente, é ali o nosso lugar.Levantando a Cruz de Jesus cristo, como sendo a cruz de cada sofredor do mundo, de cada excluído e esmagado pelos deuses deste tempo. Denunciando toda a forma de sofrimento, como o sofrimento do próprio Cristo, solidarizando-nos com os crucificados de hoje e evidenciando na Cruz vazia, aspergida de sangue sim, mas vazia, a vitoria sobre a dor, e apontando para a ressurreição de Cristo como a ressuceicao de todo o filho em estado de sofrimento, todos os pobres, deixados a margem.
Jesus Cristo não morreu simplesmente para que se cumprisse uma determinação messiânica, e uma irrevogável profecia. Cristo era livre, e portanto doou-se, pois qualquer imposição que soasse automatizada seria imoral, pois todo o ato moral tem a sua base na liberdade de ação. Sua morte foi uma conseqüência direta de seus enfrentamentos e opções feitas ao longo de sua vida, sua postura e a intransigência de seus discursos comprometidos com a vontade de Seu Pai, o anuncio do Reino vindouro. A morte em cruz foi uma conseqüência de seu enfrentamento político e religioso com os poderes da época, a tomada de partido daqueles que eram excluídos, que viviam à margem de todo o existir religioso e social, a subversão da ordem dos preteridos do Pai levou Cristo a sofrer a pior morte, mas não o pior sofrimento, pois o sofrimento que leva ao cessar de todo o sofrimento, é um sofrimento que tem que ser desejado na verdade. E Jesus o quis, portanto, causou a sua morte.” (...) Na medida em que pregou a justiça de Deus como sendo um direito da graça para os deserdados e oprimidos, provocou a resistência dos defensores da lei.” J. Moltmann.
Essa dimensão da morte de Jesus, tão pouco evidenciada por alguns segmentos da Igreja, retira na verdade a capacidade de associação aos eventos da atualidade, e retiram todo o caráter revolucionário e subversivo presente no evangelho. Se enxergamos na historia de Jesus Cristo, um comprometimento com os que sofrem e com a inversão da ordem e enfrentamento dos poderes que causavam a opressão naquele tempo, se faz categórico então que tracemos um paralelo, transportando aos dias atuais e identificando os mesmos poderes causadores dos sofrimentos aos inocentes deste mundo, enfrentando-os de uma forma intransigente, agindo de forma iconoclastica ao derrubar estes deuses que nos cercam. E acima de tudo mostrar a Cruz como a mensagem suprema da Libertação de todos os cativos no mundo, derrotando a leitura feita de uma total resignação e complacência frente ao sofrimento dos inocentes, perpetuando um esquema que evidencia um Deus sádico, em contra – partida de um povo masoquista.
A cruz é portanto uma denuncia à toda forma de injustiça presente no mundo, uma viva e poderosa lembrança de que todo o sofrimento dos inocentes, pobres, perseguidos, doentes e vitimados deve ter um fim, o sofrimento dos encarcerados em presídios superlotados e falhos em reabilitar, presos que por nascerem privados das mínimas condições de sequer despertarem para a possibilidade de que existiam, o que os fez viver na invisibilidade social, este sofrimento deve ter um fim. Negros idosos que não conseguem as vezes olhar para dentro de si e se verem como iguais aos brancos, o remorso talvez de não ter colocado a geração seguinte em igualdade de condições, deve ter um fim.Jovens negros que hoje pagam o preço da falta de estrutura e perspectiva causada pelo preconceito e racismo oficial de uma passado vexatório, cometido contra os seus pais e avós, os negros idosos já citados, injustiçados pelas mesmas oligarquias que ainda controlam o poderio político e econômico do país, também deve ter um fim.Mães e pais adolescentes que foram bombardeados com todo o tipo de entretenimento necessário para levar alguém a engravidar, pulam uma das mais importantes etapas da vida, e se torna frustração, sofrimento portanto e, deve ter um fim. A educação sexual não existe nos países machistas da America latina, a educação em si não existe na America latina, o povo é entorpecido com o sonho médio, inalcançável a todos. Esqueçam, nunca teremos o que dizem que temos que ter, isso é sofrer e esse sofrimento deve ter um fim. Os moradores das zonas rurais, camponeses expulsos pela expansão do agro – negócio, migrando para as zonas urbanas e logo encaminhados para o seu reduto natural, as favelas, habitando à margem, se tornando invisíveis, alienando-se da própria existência, persuadidos então pelo crime, lembremo-nos de palavras usadas aqui mesmo: O ciclo se faz por completo, está tudo arquitetado. E esse sofrimento deve ter um fim.
Optar pelo sofrimento, por compartilhar o sofrimento, sendo solidário aos que gritam com urgência por libertação, não importando se o que os oprime tem natureza política, espiritual, ou econômica, toda forma de sofrimento vai contra a própria vontade de Deus para a criação, Jesus optou sofrer para por fim a toda forma de sofrimento, fez evidenciar na face dos que sofrem vidas tão importantes que fez de seus sofrimentos uma causa para Sua vida. E nisso compreendemos de uma vez por todas, que toda a vida vale apena, esteja ela onde estiver e como estiver.
Soli Deo Glória
A Revelação
O nosso conhecimento de Deus, ainda de fato, infinitamente insuficiente e falho quando dependente de nossa própria capacidade de revelá-lo, descobri-lo e anunciá-lo, só poderá ainda ser levado em conta quando ligamos e submetemos tal conhecimento à revelação que Ele faz de si mesmo. Quanto a essa auto-revelação que Deus faz, podemos obter pelo menos duas classificações: a revelação geral, Deus se comunica de forma irrestrita a todos, independente do tempo e do lugar; e a revelação específica,que abarca Deus se revelando de forma particular a alguns e, em épocas específicas e manifestando-se, então, Deus comunica-se e faz conhecida a Sua vontade, que temos acesso na observância das Escrituras Sagradas. Já quando citamos a revelação geral de Deus como modo de O conhecermos, nos referimos a Sua auto-manifestação por meio da Natureza, da história e da personalidade do próprio homem.
A REVELAÇÃO GERAL
Deus deixou traços, ou melhor marcas indeléveis e precisas sobre si na natureza e criação, que expressam de forma inequívoca a perfeição do criador. Na história, Deus se move e atua a favor de determinados objetivos no mundo, com o mundo e a favor do mundo, se servindo da Sua própria criação. E por fim, o homem como forma de revelar a Deus.Somos o cerne da criação, a mais valiosa obra prima, não apenas pelas qualidades físicas e mentais, mas também por nossas qualidades espirituais e morais onde se percebe melhor a próprio caráter de Deus.
Então temos na revelação Geral uma leitura final e decisiva sobre o nosso conhecimento de Deus? Uns se apóiam na teologia Natural para afirmar que sim. Alicerçando-se unicamente na razão, sem a necessidade de alguma fé anterior as crenças do cristianismo, tampouco de autoridade, instituição ou documento, Igreja e Bíblia respectivamente. Segundo Tomás de Aquino, teólogo e monge italiano da era medieval, podia se provar a existência de Deus unicamente através da razão, entretanto haviam questões que necessitam ser aceitas mediantes a submissão à autoridade.
Na própria Bíblia se entende que sobre a revelação geral Deus deixou de forma clara o que pode ser conhecido sobre Ele. Sua auto-manifestação é contínua desde a criação sendo percebida em tudo o que Ele fez. A revelação que Deus faz de si está acessível a todas as pessoas que queiram compreende-la, porém existe a barreira do pecado velando esta observação de Deus através da natureza, por isso Calvino usa a expressão ”óculos da fé” como sendo necessários aos pecadores que por problemas em sua “visão” não conseguem ver Deus em Sua criação, mas quando colocam os “óculos”, a vista melhora.
Embora tenhamos claramente através da Palavra de Deus indicações sobre a Sua Revelação deixada na natureza, ela, a Palavra, não dá a entender de forma alguma e de uma maneira inequívoca que podemos sustentar quaisquer argumentos de que há na revelação geral provas incontestes de Sua existência. A revelação geral existe e é objetiva, porém não pode ser usada para construir uma teologia natural que queira excluir outras formas de conhecimento sobre Deus.
A REVELAÇÃO ESPECIAL
A Bíblia, Escrituras Sagradas, Palavra de Deus.É ali que Deus se revela de maneira especial e inequivocamente. Dirigindo-se ao homem, fazendo conhecidos os Seus desígnios quanto a salvação e redenção do homem ainda na qualidade de pecador, sendo compreendida somente pela fé. O telos que fundamenta o “porque” de tudo isto, e do próprio homem apesar de toda a perturbação provocada pelo pecado.
Em certos tempos, e para certas pessoas, Deus se manifestou de forma clara, e particular, comunicou-se e impôs a Sua vontade redentora e salvífica. Por esta revelação especial captada, registrada por pessoa s que não puderam se eximir a Sua mensagem podemos conhecer novamente a Deus e Suas obras, obras que ficaram impedidas de comunicar a salvação por causa do pecado no mundo.
Javé firmou alianças pessoais, apresentando-se pelo nome.A essa revelação de natureza pessoal registrada na Bíblia se acentua o fato de a Palavra de Deus ser uma série de pronunciamentos específicos ou particulares sobre ocorrências e fatos concretos. No uso de linguagem humana, natureza antrópica da revelação, se faz perceptível na encarnação do próprio Deus,que assume a forma humana comum. Jesus é essa revelação suprema. Há ainda a natureza analógica da revelação, algumas comparações utilizadas para fazer uma verdade conhecida, tem que ser levado sempre em conta a grande diferença do que se compara, pois trata-se de Deus, infinito e inalcansável.
Deus utiliza-se da história, seus atos revelam a Sua intenção e caráter tornam-se indeléveis. Israel deduziu o Seu caráter salvífico através das inúmeras ações de libertação do povo. Deus também se revela falando, Seu discurso divino, Sua voz, o falar silencioso sobre a consciência de alguns, sonhos visões e interpretação de fatos. A encarnação,, Cristo é a palavra Viva de Deus, que reverbera de forma suprema e definitiva universalmente.
A respeito das formas de revelação de Deus, pode se dizer que essas linhas de pensamentos que apontam para uma revelação tanto pessoal como proposicional, podemos dizer que Deus se revela, dizendo-nos algo a respeito de si.
Abrindo um parênteses na linha de raciocínio até aqui estudada e fundamentada na Teologia sistemática de Erickson, e partindo para uma leitura barthiana a Palavra ganha uma outra conceituação, mais intrínseca à história, ao homem e à própria revelação que Deus faz de si. Para Karl Barth a Palavra de Deus é a palavra que Deus falou, fala e falará em meio aos seres humanos, a todos os seres humanos,quer seja ouvido, quer não seja. É a palavra de seu agir nos seres humanos, a favor dos seres humanos, com os seres humanos, Sua palavra é inequívoca, não é dúbia, não é obscura, é clara, portanto, em si é compreensível tanto para o mais sábio quanto para o mais estulto.Deus age e, agindo, fala. A palavra revela o ser humano como criatura, como Seu devedor insolvente, como ser perdido sob o seu juízo. Mas também revela o homem como criatura mantida e salva por Sua graça. E é sobre essa dupla revelação que se baseia o conceito barthiano de revelação especial e palavra de dEus: Deus como Deus do ser humano e o ser humano como ser humano e Deus.
Por isso temos que inequivocamente apontar para a palavra que Deus falou na história de Jesus Cristo como a palavra de consumação da aliança entre o parceiro divino santo, justo, fiel e perfeito e o parceiro humano que não é santo, justo, fiel e tampouco perfeito. Essa palavra fala da presença constante do parceiro divino fiel e do falhar do parceiro humano, o Israel ( o que luta não a favor, mas contra Deus) esse é nome desse povo. Assim ela revela a plenitude dessa aliança - não a humana, mas a divina, a de Javé. Por isso é uma aliança que aponta para uma consumação, porém não se torna plena em si.
Até que intervém a história de Jesus Cristo, atingindo o alvo da consumação dessa aliança. Em Cristo a antiga e única aliança, feita com Abraão, proclamada por Moisés, confirmada a Davi, se torna plena na medida em que o próprio santo e fiel parceiro da antiga aliança apresenta um parceiro humano, igualmente santo e fiel em meio ao seu povo, aceitando de forma irrestrita este parceiro, solidarizando-se com ele em uma relação de Pai e Filho e acima de tudo evidenciando-se a si mesmo como Deus, como idêntico a ele, esse mesmo ser humano. A consumação se efetua pelo fato de que o próprio Deus habita, fala e age naquele ser humano, do contrário tal vácuo na história não poderia ser atingido.
Definir essa revelação, esta Palavra que a partir do nada a tudo chama a existência , que da morte chama a vida. Se olhamos para o fato de que, revelação entende-se apenas o fato em si, a ação de revelar, então a Bíblia não é revelação. Mas se é também o resultado do revelado, o produto, a Bíblia também pode ser definida como revelação.
A PRESERVAÇÃO DA REVELAÇÃO: A INSPIRAÇÃO
É o Espírito Santo que exerceu sobre os autores a influência para que os textos pudessem ser reconhecidos como Palavra de Deus. As testemunhas primárias da Palavra de Deus, tanto nas pessoas do antigo como do novo testamento sofreram a influência direta do Espírito santo para a transmissão e manutenção desta palavra para outras pessoas. Não há que haver uma associação irrestrita de revelação com inspiração pois segundo a própria Bíblia, pode-se ter revelação sem inspiração e inspiração sem revelação, é um fato que há verdades reveladas por Deus, que não foram registradas, e não estão relatadas nos textos sagrados.
Que maneiras e Métodos Deus utilizou para essa inspiração? Algumas teorias podem responder a indagação: Por intuição, às testemunhas se encontrava um alto grau de percepção, um dom, uma capacidade única e especial, um bem permanente.
A teoria da Iluminação aponta para a ação direta do Espírito, mas agindo de forma a coadunar com a capacidade prévia de percepção das testemunhas.
A teoria dinâmica ressalta a co - participação divina e humana no processo de escriturístico da Bíblia, assim a “profecia está sujeita ao profeta”.
A teoria verbal tenta demonstrar que não somente houve um direcionamento de pensamentos, mas também preciso quanto as palavras usadas na transmissão da verdade. Não confundindo-se com um ditado, uma autômata reprodução textual.
A teoria do ditado sim implica em entender os escritos como reproduções exatas daquilo que o próprio espírito ditou, irrestritamente toda a Bíblia será ditada pelo espírito.
A AMPLITUDE E A INTENSIDADE DA INSPIRAÇÃO
Como olhamos a Bíblia? Como uma seleção de textos totalmente inspirados? Com uma seleção de textos com lições claras de ética e moral e espiritualidade, porém influenciada somente da ótica e práticas humanas, sem inspiração divina portanto? Ela foi abrangente e geral? Ou abarca alguns conceitos apenas? Com que intensidade percebemos a influência do Espírito no processo escriturístico?
Podemos confiar sim que a inspiração é divina, apesar da distância temporal, temos um guia seguro para o hoje pois é a genuína a palavra de Deus para nós. São os detalhes imperceptíveis sem a fé que denotam a intensidade com que a palavra é a genuína proclamação de Deus.
A CREDIBILIDADE DA PALAVRA: A INERRÂNCIA
Com relação a inerrância Bíblica, pode-se até não haver uma preocupação por parte de alguns em apresentar a Bíblia como infalível e absolutamente exata em todos os aspectos. Porém há ainda os que encaram de forma fundamental discutir, e provar que todos os seus ensinos são infalíveis e seu conteúdo é plenamente confiável. Alguns conceitos sobre a questão são apresentados, a saber:
Inerrância absoluta- A Bíblia é verdadeira de forma integral, seus conteúdos históricos, culturais, científicos, geográficos são infalíveis.
Inerrância plena- A Bíblia não tem obrigação de apresentar descrições históricas, científicas, geográficas, mas as que possui, constituem totalmente à verdade.
Inerrância Limitada- Com relação à assuntos que concernem à doutrina de salvação ela é sim inerrante e infalível porém quando se trata de ciência e história, Deus não se preocupou em revelar.
A compreensão de inerrância se torna mais importa sob o ponto de vista de três fundamentais questões: A importância teológica, histórica e epistemológica.
Importância teológica: Personagens de vital importância para a fé creditam à palavra autoridade, e do próprio ser de Deus e Seus atributos retira-se fundamentos para a defesa da inerrância.
Importância histórica: A Igreja ter imposto a palavra como inerrante e totalmente revelada por Deus, e exemplificando ainda mais, todas vezes em que se tratou da palavra afastando-a do conceito de inerrancia se verteram à heresias pavorosas.
Importância Epistemológica: Se experimentamos as declarações contidas na Bíblia é porque tem que ser verdade.
Podemos sim esbarrar em algumas dificuldades em explicar determinadas declarações, histórias ou dados porém não podem isso de modo algum resultar em prejulgamentos de erros.
O PODER DA PALAVRA DE DEUS: A AUTORIDADE
O que é autoridade? Somente o direito de comandar a fé? Ou mesmo a ação?. Sim Deus é a única autoridade que deve ter relevância quando se trata daquilo que diz respeito a si mesmo. Ele será sempre a autoridade final e inquestionável em questões religiosas. Porém esbarramos talvez na nossa falta de fé de que toda sua autoria é divina e para que isso ocorra é inteiramente preciso a ação interna do Espírito Santo que ilumina o nosso entendimento, é ele quem cria a certeza de que a Bíblia é a verdade e parte de Deus. Essa ação se faz mais necessária quando nos deparamos com a realidade de nossa diferença qualitativa, entre o nosso ser e o Ser de Deus, pela necessidade que temos de certezas e confirmações a respeito das coisas divinas e de nossas limitações latentes de nosso estado pecaminoso.
A autoridade bíblica nos direciona para um cristocentrismo sem escapatória, pois é o papel do Espírito Santo ensinar e lembrar de tudo o que Jesus ensinara; testemunhar sobre Jesus; nos convencer do Pecado, da Justiça e do juízo e nos conduzir a toda verdade.
A verdade é que temos uma dupla ação, inseparável, entre a autoridade e a razão. Isso é em si conflitante ou não? A razão de forma alguma pode ser entendida com ferramenta primária, ela não descobre a verdade. A verdade parte de Deus, assim como todo o conhecimento a respeito dEle, porém, em etapa posterior, quando nos deparamos com os desafios de determinar os significados das escrituras, e mesmo avaliar se corresponde à verdade, temos de nos utilizar da razão e os melhores métodos, sejam científicos, exatos, lingüísticos.. Portanto, fé e razão tem de andar juntos.
Mas e hoje? Certamente encaramos a Bíblia como a vontade de Deus para o homem, mas ficamos presos a uma temporalidade conflitante. Existe relevância daquela mensagem para os dias de hoje? Essa autoridade é dupla : a histórica e a normativa. No que diz respeito ao que Deus ensinou a povo e ao que Ele exigiu das pessoas na época, ela é autoridade histórica. Em se tratando de autoridade normativa, ou seja ligada às leis e sua essência é preciso ter cuidado ao determinar a essência permanente e sua forma temporária de expressão. Nem tudo o que tem autoridade histórica vai necessariamente ter autoridade normativa, para nós hoje.
UMA REALIDADE CONFLITANTE
O que Deus quis revelar Ele revelou, expressando a Sua vontade de forma inequívoca e eterna para o homem, manifestando a graça, nos reconciliando e absolvendo-nos de toda a culpa. Mas continuamos a querer ouvir outras vozes que não a dEle, talvez seja o receio de ouvir a verdade, o confronto sobre nossa realidade. Buscamos respostas, palavras, profecias, que irão soar como mais um final de filme de Spilberg, onde tudo sempre acabará bem, o galã sempre se dá bem, triunfa sobre o mal e explode a sua fortaleza. Sim o bem vence o mal, ou melhor, o bem já venceu o mal, eis a grande diferença que muda tudo. Então queremos ouvir mais o que? Um Deus esquisofrênico, que muda de opinião e julgamento e trabalha com o improviso? Eu não quero ouvir a isto.
A igreja brasileira, com algumas raras exceções, se enclausurou em um vício espiritualizante que alienou o povo e serve de uma espécie de ópio, anestésico e letárgico, narcótico mesmo. Somos um país mítico, que de católico apostólico romano não tem nada, somos sim Espíritas e cremos seriamente em possessões de entidades por exemplo. E isso adentra às nossa igrejas ao basearmos a nossa relação com o espírito de uma forma estritamente relacional e mítica. Os púlpitos estão cheios de profetas que insistem em se levantar e anunciar em nome de Deus aquilo que Ele próprio diz pessoalmente, por meio de Sua revelação. Não que eu ache que Deus não utiliza Seus ministros na propagação de sua palavra, mas tomar em autoridade e falar em nome de Deus com tons de revelação especial, seja em visões, sonhos ou de qualquer artifício sugestionável? Mentiria se dissesse que creio.
Pessoas direcionam suas vidas e ações e vidas seguindo estas vozes, vozes estas que ao meu ver são um sopro do próprio espírito humano querendo mais e mais não depender da verdade vinda de Deus, indo além, do governo e senhorio irrestrito de Cristo sobre a vida.Não é interessante e não temos tempo sobrando em nossas agendas para nos atermos às palavras de Deus que nos convocam ao arrependimento, à reflexão, a auto-análise, ao perdão. Temos pressa, nós nos auto-otimizamos, as relações de poder criadas pelo capitalismo nos obriga a sermos melhores, a nos auto afirmarmos, então porque eu tenho que ouvir que eu não mereço nada do que eu tenho ou do que eu sou, já que eu dei tão duro? A graça é preciosa demais, e temos outras prioridades, outros investimentos. Mas quando aquele Pastor ungido abre a boca e aponta pra mim e diz: Eis que te digo... Aí tudo faz sentido, Deus sabe dos meus problemas, Eles está me vendo, e eu recebo!
Onde a revelação é real e verdadeira, atemporal e clara está escrito: que chegaria um dia em que não suportariam a Sã Doutrina. E não estamos suportando, por isso interferimos e tratamos logo de colocar um novo interlocutor nessa história, pena que nem todos podem entender, pois,essa língua é meio estranha.
Soli Deo Glória!
sábado, 14 de junho de 2008
SERMÃO: Para quem está no Getsêmani.
39-E saindo, foi como costumava, para o monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram.
40-E, quando chegou àquele lugar, disse-lhes:”orai, para que não entreis em tentação.
41-E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava,
42-Dizendo; Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua.
43-E apareceu um anjo do céu, que o confortava.
44-E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue que corriam até o chão.
45-E, levantando-se da oração, foi ter como os seus discípulos e achou-os dormindo de tristeza.
46-E disse-lhes: Porque estais dormindo? Levantai-vos e orai para que não entreis em tentação.
O sofredor, manchado de sangue, e agonia de espírito, abandonado, ainda tem todo o céu a seu chamado.
No evangelho de Lucas, a história de Jesus e Seu sofrimento no jardim chamado Getsêmani nos mostra primeiramente uma mudança radicalmente mortal, desesperadora e pavorosa de uma comunhão agradável da Ceia com os discípulos para a solitária e agonizante batalha experimentada na busca pela presença de Seu pai junto a Si para enfrentar a “hora chegada”, a hora crítica da consumação de Seu existir salvífico. Seu sacrifíco já era de certa forma ali iniciado.
Cristo leva consigo os Seus amigos ao jardim, procura alguma consolação pelo menos nos seus três mais queridos amigos, e eles dormem; pede-lhes que se conservem um pouco com Ele, e eles deixam-no com uma inteira negligência, tendo tão pouca compaixão. Que esta nem sequer os impede de dormir um momento. Jesus exorta seus amigos à fervorosa e intensa oração, porém, Ele retira-se à distância de uma pedrada, o que não impedia de ser ouvido, porém é abandonado e em profunda solidão se põe de joelhos e ora. Jesus já não conta com eles, mergulha em Sua solidão e faz evidenciar em Si uma humanidade ainda não percebida. É a mais clara e evidente demonstração da humanidade presente na pessoa de Jesus. Era o homem, entregue à própria sorte, sem auxílio, socorro, privilégios. Embora sempre presente, o Pai de Jesus ali se calou e se fez ausente da perspectiva do Filho. Era esse portanto o grande motivo de agonia: a sensação de desamparo e abandono, o mergulho à mais completa solidão que vivieria até o momento crucial do Gólgata . Jesus evidencia não somente a humanidade na perda do total privilégio de Sua própria divindade, mas fundamentalmente em decidir experimentar em sua carne todas as nossa mais profundas tragédias, misérias e angústias.Veio sofrer todo o sofrimento humano, carregou sobre Si os pecados do homem, entretanto sem jamais pecar e, portanto, sofreu o isolamento e abandono da parte de Deus que caracteriza os pecadores.
O Pai de Jesus estava ali, porém teve que se calar, não pôde passar o cálice de Seu Filho, não pôde lhE tomar pelos braços e consolá-lo. Sua vontade era então feita, Jesus se entregava à confiança e certeza de estar cumprindo o que o Pai O mandara.
Que coragem Jesus demonstra em decidir ir ao Getsêmani para esperar a hora crítica, Ele escolhe o Seu lugar costumeiro de orações mesmo sabendo que Judas, o que havia de traí-lo conhecia aquele lugar, e que provavelmente ali seria preso. Mas era ali que Jesus encontrava inúmeras lembranças que podiam aumentar a Sua fé e Sua confiança em Seu Pai. Quantas vezes ali mesmo Jesus teve de Seu Pai palavras de força, de esperança, de certeza e confirmação para continuar a caminhar e enfrentar os “poderes de seu tempo” e a agir na causa do Pai, o Reino. Ali o sofrimento tinha que ser completo, tinha que ser humano. O que Jesus possuía eram as lembranças, palavras, orações ecoadas em clamores, à quais travava intensa batalha para que fossem ouvidas e respondidas por Seu Pai.
Em agonia, por travar uma batalha entre Seus clamores e o silêncio de Deus, há um suar de sangue tocando ao chão que denuncia o total desespero e limite físico frente ao pavor de enfrentar tudo de maneira solitária. Mas haveria de ter um levantar vitorioso de Jesus das orações do Getsêmani. E de fato Cristo ali em depositar sobre a vontade de Seu Pai uma total entrega e confiança, vence e se levanta Vitorioso. Naquele jardim o paraíso foi reconquistado. Jesus levanta-se mais forte e convicto para executar até o fim os planos de Seu Pai. O Seu destino depois do Getsêmani era a cruz, o mesmo sangue que escorrera de seu rosto como denúncia de Seu pavor tocaria mais tarde o chão do Gólgota, não para a Sua derrota mas parar transformar a própria cruz em trono.
Todos nós, à espera da “chegada da hora”, hora crítica, podemos ser levados ao Getsêmani, onde assim como Jesus podemos ser “ abandonados” e Deus pode Se calar. Mas temos o levantar vitorioso de Jesus como o nosso próprio levantar. Vislumbramos na história de Jesus no jardim chamado Getsêmani três fundamentais lições:
1- Todo o “não” de Deus é circundado por um grandioso e salvífico “sim”.
O calar de Deus e Seu afastamento na história de Jesus no Getsêmani tem que ser percebido como o contundente Não a Jesus. Porém esse emudecimento, ou abandono sentido por Jesus, visto que, era Cristo quem não sentia a Sua presença naquele lugar e isso O leva a cada vez mais buscar de maneira humílima a Deus em Seus clamores. “ E posto em agonia orava mais intensamente” Era através daquele sofrimento, que aprendemos sobre obedecer, mesmo quando não ouvimos a quem nos ordena. Através da própria consciência, as lembranças de Jesus a respeito de Seu Pai e a certeza, apesar de tudo, de que corria tudo conforme os planos daquEle que até aquela hora e desde antes da fundação do mundo em nada havia falhado, o sustentavam ali.
Somos levados ao Getsêmani, experimentamos o “não” de Deus, Seu silêncio, abandono e todos os possíveis efeitos de tal sofrimento: os psicológicos, físicos e sociais. Formulamos então um ideal de Deus por demais iracundo e déspota. Estamos prontos a negar este Deus. Até a hora que percebemos que assim como em Jesus, a consciência deve falar e as lembranças se sobreporem ao temor.
Enquanto batalhamos com Deus, insistindo que o “cálice seja passado de nós”, perdemos. Não levantaremos vitoriosos. Mas quando decidimos seguir nossas lembranças sobre o Deus que nos retirou do charco de lama mais pútrido de todos e que de maneira misericordiosa, totalmente imerecida, por um amor inexprimível e inteligível a nós, que beira o constrangimento, pois jamais devolveremos de maneira recíproca, resolveu nos alcançar com sua graça, nos limpar, dar novas vestes e nos chamar de filhos, não se importando com o quão infiéis continuamos a ser. E tudo isto por um preço pago à custa de sangue, dor e morte. Nossa consciência tem então que falar, pois o Deus ao qual professamos a nossa fé, esse Deus da vida é imutável e Seu inevitável “não” se acha circundado por Seu “sim” em favor do ser humano. Desta forma, tudo o que Deus quer e faz para o ser humano e com o ser humano representa obra prestimosa e salvífica.
Eis então que descobrimos que a voz na consciência é o próprio Deus falando de maneira amorosa: levante- se vitorioso, vença clamando o “todavia, não seja o que eu quero mas o que tu quer”. É somente aí que reconquistamos o paraíso, confiando, tendo paciência e percebendo a verdadeira voz de Deus falando constantemente em nossa consciência, que surge com o nosso próprio clamor de total entrega e dependência.
2-Perceba o conforto de Deus não somente acima, mas ao lado ou mesmo abaixo de você.
“...E apareceu-lhe um anjo do céu que o confortava”.
Sempre que lia este trecho em Lucas eu me indagava: como pode o Senhor ser confortado por uma criatura Sua? Até que a palavra humildade me foi despejada dos céus. Humildade não pode soar como diminuição dos atributos divinos e incomunicáveis de Deus, mas em confirmação dos mesmos. Desta forma podemos aprender a esperar o auxílio, o conforto, a ajuda requerida a Deus e de maneira exclusivamente vertical, vindo de pessoas simples e coisas comuns. Não podemos negar jamais que toda a força, e conforto vem mesmo de Deus, mas Ele fez de Suas criaturas ministros Seus para trazê-los. Evidenciar na face destes a própria face de Deus é não negá-lo, é necessário e vital. Romper o orgulho é uma tarefa difícil à maioria de nós, o sofrimento de certa forma hoje é apresentado por boa parte da igreja brasileira como sintoma de falta de fé. Essa “ordem teológica” de confissão positiva vendida nos púlpitos tenta abolir completamente o sofrimento, o que se antagoniza com o próprio sentido do existir cristão, onde, apesar de todo o sofrimento ainda ter a capacidade de não parar de amar e viver. Podemos até não parar de amar, mas nos calamos. O sofrimento nos torna mudos, nos aliena, nos isola. E expressa-lo aos que estão próximos pode fazer surgir a voz que tanto esperávamos de Deus.
O conforto de Deus pode sim estar ao lado, ou mesmo abaixo, em pessoas humildes e sem recursos, mas prontos a participar e dividir conosco o nosso sofrimento e se quebrantar por nós diante de Deus clamando com o rosto em terra.
3- Perceba em você o anjo capaz de confortar.
As vezes fechamos os olhos aos sofrimentos alheios. É impressionante o fato do quão insensíveis somos capazes de ser quando se trata do sofrimento alheio. Geralmente não damos um passo sequer em direção ao sofredor, mesmo que este esteja perto, dividindo a mesma casa, emprego ou mesmo o banco da Igreja, nos tornamos cegos e surdos. Mesmo quando chegamos a perceber o sofrimento latente ao nosso redor, transferimos a carga para Deus. Claro, isso é inconteste, é Deus quem dá a força e o conforto, mas estes podem sim vir por nosso intermédio. Se focamos a história do Cristo agonizante no Getsêmani como o inicio de Seu calvário, ela terá sempre que ser uma lembrança de que o sofrimento dos oprimidos deve ter um fim.
Vemos as gotas de sangue escorrendo até o chão, lamentamos, mas no fundo damos graças por não serem as nossas. Negligenciamos o fato de o nosso próprio Senhor, que pôs o rosto em terra e clamou intensamente em agonia profunda de espírito, continua a clamar naqueles que sofrem, que foram emudecidos e estão sob constrito. O Deus a qual professamos nossa fé diz de Si mesmo que habita no alto e Santo lugar, mas habita também com o contrito e abatido de espírito(IS 57-15) Evidenciar Deus na face dos que sofrem, e sofrer com Eles. Eis a forma mais digna de sofrimento: o que pretende dar fim a toda forma de sofrimento.
A opressão, não importando mais se a sua origem é econômica, espiritual ou política, coloca sobre a face do oprimido o próprio Deus, o mesmo Cristo sofredor do Jardim Getsêmani. Estender as mãos ao que clama, não permitir que o sofredor se mantenha isolado, cego, mudo e surdo incapaz notar que Deus está sim presente, é papel de todo filho tomado em graça e comprado por preço de muito sofrimento.
É claro que qualquer espécie de sofrimento é uma experiência absurda, pois opõe-se ao propósito de Deus para Sua criação. O sofrimento que se experimenta, poderá, todavia ter sentido quando é resultante de uma opção clara pela vida, pelo fim de toda e qualquer forma de sofrimento, principalmente quando se trata de sofredores inocentes. O sofrimento do mundo não pode acontecer sem que faça os filhos de Deus se verem também perturbados por ele. A salvação é um dom da graça de Deus, mas que demanda uma resposta concreta num ato de profundo comprometimento com aqueles que sofrem no mundo.
sábado, 24 de maio de 2008
O Vento Sopra Onde Quer
Todos os dias ao me levantar e ao olhar para o céu, estando azul ou cinza, sentindo a brisa fresca ou o frio mais gélido eu não consigo me omitir e não falar. Um louvor íntimo naturalmente atravessa os meus lábios. Como é bom viver neste mundo.
Seria tudo tão mais simples se deixássemos o vento soprar onde Ele quer soprar e não tentássemos manipulá-lo e moldar de forma a executar os nossos planos maquiavélicos e egocêntricos de dominação e usurpação do Poder e Soberania de Deus.
A Igreja brasileira está doente, o povo de Deus na América latina está viciado e moribundo, entregue nas mãos de homens e mulheres que nunca souberam o que de fato é o poder do Espírito Santo. O vício à uma espiritualidade alienante e mortífera vem persuadindo inclusive as Igrejas históricas e tradicionalmente lúcidas quanto ao segmento da espiritualidade de Cristo como uma espiritualidade genuinamente e poderosamente vitalizante.
Nos ensinam sobre estar no espírito, o “sentir” ou o “fogo” que desce nos revestindo de poder.... A unção milagrosa que te transforma em pisotiador de “serpentes e escorpiões” e nos bastamos nisso. Achamos que isso é o fim em si do nosso existir religioso. Negligenciamos a própria revelação que Deus faz de si mesmo em Jesus, nos mostrando que isso é um meio e não o fim.
Alienação, somos enclausurados num esquema religioso que nos faz negar a nossa mais elementar vocação humana, sermos entes de relacionamentos. Com Deus, com o próximo e conosco mesmos. Se nos afastamos e nos isolamos do mundo enxergando-o como contaminante e pervertedor pisamos no Deus da Criação, nos méritos de Cristo e na universalidade de Seu agir salvífico. E aí vemos claramente que o espírito que está por trás disso tudo não pode ser o Espírito do Deus Trino, mas sim o nosso próprio espírito humano querendo mais uma vez rebelar-se contra o criador e cuspir fora o “Ruah Jhwh”-sopro de Javé.
Ao seguir os passos de Jesus e enxergar no relacionamento com o Pai, com a causa do Reino, e por conseqüência com o povo é que vemos o modelo de espiritualidade à seguir. Por mais que todo o Poder tivesse sido dado a Jesus, no céu e na terra, Ele nunca se deixou dominar pela tentação de se envolver somente aos momentos de ápice espiritual, por mais que isso fosse algo poderoso e sobrenatural - a transfiguração de Jesus por exemplo-. Cristo se utilizava dos momentos em que mergulhava no Poder do Espírito pra fazer disso a força motora de Seu agir na terra, dos discursos intransigentes e subversivos contra todos os poderes do mal, carne ou potestades. Era com esse Poder que Jesus anunciava que Deus quer governar as nossas vidas, que Ele estava ao lado dos Pobres e não dos líderes religiosos hipócritas, dos doentes e pecadores, e os acolhia fazendo com que Seu relacionamento com o povo fosse percebido como o próprio relacionamento de Deus com o povo.
Hoje limitamos Deus aos templos, o nosso amor a Deus acima de todas as coisas é medido por nossa freqüência aos cultos e ofertas que sacrificialmente nos dispomos a dar. Nos motivamos em estar na casa de oração e adoração para simplesmente recebermos os nossos “passes”, as palavras proféticas de que todas as portas serão abertas em nossas finanças e que Deus está tirando as correntes e o peso de nossos ombros. Transformamos o Deus Criador em criatura servidora, em refém de nossos desejos ensimesmados. Deixamos de seguir o sopro do Espírito evidenciado na suprema revelação de Deus: a vida, os discursos, o acolhimento dos pobres, doentes e pecadores, a alegria, o compromisso com a causa do Pai e finalmente a morte e ressurreição de Cristo, para seguirmos o espírito forjado em ditames do pós – modernismo que nos ensina que devemos crer no que sentimos e que a graça é merecida.
Compactuamos a tudo isto ao nos calar, e nos amedrontar-mos diante do poderio institucional que rege a Santa Igreja de Jesus Cristo, a comunhão dos Santos.. (lembram-se disso?)
Não há no mundo força persuasiva humana que me fará calar diante de tal ameaça. Pois sei que sigo as minhas intuições partindo do próprio Espírito que me sustenta na pergunta pela verdade., o Espírito Santo do Deus Trino.