Continua...
quinta-feira, 10 de julho de 2008
quarta-feira, 2 de julho de 2008
O desespero dos peixes. Parte I
O DESESPERO DESEJÁVEL
Os peixes tem as suas vidas resumidas em espaços de tempo de trinta segundos no máximo, esquecendo-se completamente de toda e qualquer experiência vivida anterior aos trinta segundos passados. Então, se os peixes se esquecem de tudo constantemente, não possuindo lembranças de suas experiências, posso ser categórico em afirmar que não possuem experiência alguma. Não conhecem a tristeza, a alegria, a paz, a inquietação, e indo mais profundo nisso, não conhecem sequer a possibilidade de morte, sofrimento, desespero. Uma primeira impressão que tive, é a de que queria mesmo ser um peixe, e que, deveria mesmo ser bom viver alienado de qualquer infortúnio... Mas uma certa hora a gente descobre que o verdadeiro desespero, que pode nos fazer pensar que sua conseqüência é a morte, aquela mesmo que pode significar que está tudo acabado é também uma dádiva.Porém é essa paradoxal existência do desespero, necessária existência já adianto, é que me leva direto para morrer a morte, o que significa contundentemente viver a morte, e vivê-la eternamente é vivê-la um só instante. O desespero nos ensinará que o morrer continuamente se transforma em viver. Quem desespera, não pode morrer; assim com um punhal não serve para matar pensamentos, assim também o desespero não destrói ou devora a eternidade do existir, que é o que te sustém.
Se eu me percebo em desespero devo saber que passo por um momento de aniquilação do ser, não de um outro externo que tenta me aniquilar, mas propriamente comigo mesmo, onde as relações são estabelecidas quase que de forma hermética. É o meu eu que quer ser destruído, que quer destruir, que quer ser outro, ou quer ser ele mesmo. Eis a sua irresistível vontade de auto-destruição.Mas ela é impotente em seu intento e não consegue os seus fins, e essa própria impotência em destruir-se é uma segunda forma de sua destruição, a do eu é claro, na qual o desespero pela segunda vez erra o seu alvo: destruir o eu. Não quero mais ser peixe, definitivamente não, o desespero nessa dialética indissolúvel me desperta para a realidade do ser, estar e permanecer, ou, não ser, não estar e não permanecer.
É somente desesperando na busca em destruir, renovar ou modificar o meu eu que consigo perceber que sou uma constante síntese de infinito e finito, de temporal e de eterno, e de liberdade e necessidade. E por isso a consciência de se estar desesperado ou não é tão importante. Morrer não é nada, pois, o desespero apesar de potencial assassino, falhou em sua pretensa de aniquilar o eu, deixando aberta a porta para a busca de uma consciência inequívoca de que somos totalmente incapazes de estabelecer um equilíbrio do conjunto de relações que definem o que é o eu.
No desespero, a contradição, discordância mesmo, não é de modo algum uma simples discordância, mas sim a de uma relação que, embora orientada sobre si própria, é estabelecida por outrem. De tal modo que a discordância, existindo em si, se reflete além disso até o infinito na sua relação com o seu autor.
Por isso a verdadeira morte é ser como um peixe, sem consciência do desespero. Portanto é justamente o antagônico a esta falta de desespero onde encontramos a fórmula que descreve o estado do eu, quando deste se extirpa completamente o desespero: orientando-se para si próprio, querendo ser ele próprio, o eu mergulha, através da sua própria transparência, até ao poder que o criou.
Se eu me percebo em desespero devo saber que passo por um momento de aniquilação do ser, não de um outro externo que tenta me aniquilar, mas propriamente comigo mesmo, onde as relações são estabelecidas quase que de forma hermética. É o meu eu que quer ser destruído, que quer destruir, que quer ser outro, ou quer ser ele mesmo. Eis a sua irresistível vontade de auto-destruição.Mas ela é impotente em seu intento e não consegue os seus fins, e essa própria impotência em destruir-se é uma segunda forma de sua destruição, a do eu é claro, na qual o desespero pela segunda vez erra o seu alvo: destruir o eu. Não quero mais ser peixe, definitivamente não, o desespero nessa dialética indissolúvel me desperta para a realidade do ser, estar e permanecer, ou, não ser, não estar e não permanecer.
É somente desesperando na busca em destruir, renovar ou modificar o meu eu que consigo perceber que sou uma constante síntese de infinito e finito, de temporal e de eterno, e de liberdade e necessidade. E por isso a consciência de se estar desesperado ou não é tão importante. Morrer não é nada, pois, o desespero apesar de potencial assassino, falhou em sua pretensa de aniquilar o eu, deixando aberta a porta para a busca de uma consciência inequívoca de que somos totalmente incapazes de estabelecer um equilíbrio do conjunto de relações que definem o que é o eu.
No desespero, a contradição, discordância mesmo, não é de modo algum uma simples discordância, mas sim a de uma relação que, embora orientada sobre si própria, é estabelecida por outrem. De tal modo que a discordância, existindo em si, se reflete além disso até o infinito na sua relação com o seu autor.
Por isso a verdadeira morte é ser como um peixe, sem consciência do desespero. Portanto é justamente o antagônico a esta falta de desespero onde encontramos a fórmula que descreve o estado do eu, quando deste se extirpa completamente o desespero: orientando-se para si próprio, querendo ser ele próprio, o eu mergulha, através da sua própria transparência, até ao poder que o criou.
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