sábado, 24 de maio de 2008

O Vento Sopra Onde Quer

Todos os dias ao me levantar e ao olhar para o céu, estando azul ou cinza, sentindo a brisa fresca ou o frio mais gélido eu não consigo me omitir e não falar. Um louvor íntimo naturalmente atravessa os meus lábios. Como é bom viver neste mundo.

Seria tudo tão mais simples se deixássemos o vento soprar onde Ele quer soprar e não tentássemos manipulá-lo e moldar de forma a executar os nossos planos maquiavélicos e egocêntricos de dominação e usurpação do Poder e Soberania de Deus.

A Igreja brasileira está doente, o povo de Deus na América latina está viciado e moribundo, entregue nas mãos de homens e mulheres que nunca souberam o que de fato é o poder do Espírito Santo. O vício à uma espiritualidade alienante e mortífera vem persuadindo inclusive as Igrejas históricas e tradicionalmente lúcidas quanto ao segmento da espiritualidade de Cristo como uma espiritualidade genuinamente e poderosamente vitalizante.

Nos ensinam sobre estar no espírito, o “sentir” ou o “fogo” que desce nos revestindo de poder.... A unção milagrosa que te transforma em pisotiador de “serpentes e escorpiões” e nos bastamos nisso. Achamos que isso é o fim em si do nosso existir religioso. Negligenciamos a própria revelação que Deus faz de si mesmo em Jesus, nos mostrando que isso é um meio e não o fim.

Alienação, somos enclausurados num esquema religioso que nos faz negar a nossa mais elementar vocação humana, sermos entes de relacionamentos. Com Deus, com o próximo e conosco mesmos. Se nos afastamos e nos isolamos do mundo enxergando-o como contaminante e pervertedor pisamos no Deus da Criação, nos méritos de Cristo e na universalidade de Seu agir salvífico. E vemos claramente que o espírito que está por trás disso tudo não pode ser o Espírito do Deus Trino, mas sim o nosso próprio espírito humano querendo mais uma vez rebelar-se contra o criador e cuspir fora o “Ruah Jhwh”-sopro de Javé.

Ao seguir os passos de Jesus e enxergar no relacionamento com o Pai, com a causa do Reino, e por conseqüência com o povo é que vemos o modelo de espiritualidade à seguir. Por mais que todo o Poder tivesse sido dado a Jesus, no céu e na terra, Ele nunca se deixou dominar pela tentação de se envolver somente aos momentos de ápice espiritual, por mais que isso fosse algo poderoso e sobrenatural - a transfiguração de Jesus por exemplo-. Cristo se utilizava dos momentos em que mergulhava no Poder do Espírito pra fazer disso a força motora de Seu agir na terra, dos discursos intransigentes e subversivos contra todos os poderes do mal, carne ou potestades. Era com esse Poder que Jesus anunciava que Deus quer governar as nossas vidas, que Ele estava ao lado dos Pobres e não dos líderes religiosos hipócritas, dos doentes e pecadores, e os acolhia fazendo com que Seu relacionamento com o povo fosse percebido como o próprio relacionamento de Deus com o povo.

Hoje limitamos Deus aos templos, o nosso amor a Deus acima de todas as coisas é medido por nossa freqüência aos cultos e ofertas que sacrificialmente nos dispomos a dar. Nos motivamos em estar na casa de oração e adoração para simplesmente recebermos os nossos “passes”, as palavras proféticas de que todas as portas serão abertas em nossas finanças e que Deus está tirando as correntes e o peso de nossos ombros. Transformamos o Deus Criador em criatura servidora, em refém de nossos desejos ensimesmados. Deixamos de seguir o sopro do Espírito evidenciado na suprema revelação de Deus: a vida, os discursos, o acolhimento dos pobres, doentes e pecadores, a alegria, o compromisso com a causa do Pai e finalmente a morte e ressurreição de Cristo, para seguirmos o espírito forjado em ditames do pós – modernismo que nos ensina que devemos crer no que sentimos e que a graça é merecida.

Compactuamos a tudo isto ao nos calar, e nos amedrontar-mos diante do poderio institucional que rege a Santa Igreja de Jesus Cristo, a comunhão dos Santos.. (lembram-se disso?)

Não há no mundo força persuasiva humana que me fará calar diante de tal ameaça. Pois sei que sigo as minhas intuições partindo do próprio Espírito que me sustenta na pergunta pela verdade., o Espírito Santo do Deus Trino.